A. Em primeiro lugar, o tradutor deve ter o máximo de conhecimento das possibilidades
expressivas de sua língua, ou seja, mais do que a gramática – que é uma das maneirasfundamentais de descrição e prescrição em termos da língua, mas não a única.
Conhecimento das funções dos elementos de que trata a gramática e de que tratam os estudos de textos. Familiaridade com os vários modos de expressão que circulam na sociedade, incluindo as especificidades dos vários tipos de leitores e dos vários tipos de textos: jornalísticos, acadêmicos, “mundanos” etc. A gramática não dá conta do texto, nem o pode pretender, porque só vai até a frase, mas o texto não pode prescindir dela, porque as frases estão presentes nele, ainda que organizadas de uma maneira que vai além da gramática frasal, num plano que se poderia chamar, se se quiser, de gramáticado texto.
Se privilegiar a gramática pode levar ao enrijecimento, desprezá-la produz dificuldades mil, entre as quais construções de difícil entendimento, ilógicas e mesmo construções totalmente incompreensíveis, cópias de estruturas das línguas de que se traduz que nada têm que ver com a da língua para a qual se traduz… Importa mais a função do que a definição, importa mais entender como funcionam os elementos e possibilidades da língua do que saber a designação que a gramática ou alguma teoria lhes dá – importa mais,porém não exclusivamente…
B. Conhecimento de textos em geral, de avisos na rua à literatura mais culta, passandopor jornais e revistas; muitas leituras e variadas; conhecimento de terminologias específicas das áreas a que queira dedicar-se; conhecimento geral; curiosidade intelectual.
O tradutor é um especialista em textos, escritos e falados, e tudo o que lê e ouve serve de material para suas traduções. É preciso desenvolver a capacidade de ser fiel ao original sem violar a língua para a qual se traduz, adaptar o original a um público leitor que não é o do original e que de resto o autor sequer conhece, sem com isso alterar o texto original nem perder sua especificidade ou violentar a língua para a qual se traduz. Esse é o grande desafio da tradução, bem mais difícil do que escrever um texto já de início voltado para um dado público.
C. Conhecimento de mundo, cultura geral, conhecimento de expressões artísticas em geral; de recursos auxiliares como dicionários, enciclopédias (sempre, é claro, sem tomá-los como autoridade incontestável)…
Conhecimento de descrições teóricas do processo de tradução. Capacidade de fazer buscas eficazes na Internet. Conhecimento de diversos programas de computador: processadores de texto, de planilhas, de apresentações, PDF, etc. A pesquisa e a capacidade de usar recursos é cada vez mais importante na tradução…
D. Conhecimento da língua da qual pretende traduzir. Ler sempre os mais diversos tipos de textos e acompanhar as mudanças pelas quais a língua passa. Se possível, conhecer mais de uma língua estrangeira, porque isso ajuda a ampliar os horizontes e facilita recorrer a essas línguas para resolver casos difíceis do par em que o tradutor se concentra…
Fonte: A Empregabilidade do tradutor: um breve levantamento de questões
Autor: Adail Sobral